
Kropotkin era um príncipe. Mas, renunciou a este título da nobreza. Preferiu o anarquismo. Atuou como sociólogo, geógrafo, filósofo, economista, cientista político, escritor, historiador e biólogo. Vamos falar um pouco sobre o biólogo.
Em 1866, ele e dois amigos, viajaram para o leste da Sibéria pela aventura de encontrar uma hipotética mina de ouro indicada num mapa desenhado em uma casca de árvore com a ponta de uma faca por um caçador. Era um trabalho de ‘geógrafo’. De fato, suas descobertas transformariam a compreensão da geografia do norte da Ásia.
Kropotkin tinha, também, outros interesses, como biólogo. Queria elementos para contestar Thomas Huxley, “o buldogue de Darwin”, que acreditava, a partir da Teoria da Evolução de Darwin (1859), que “os seres humanos são brutais e competitivos e sua sociabilidade é apenas um verniz recente, racionalizado pelo interesse próprio”. A natureza como um “show de gladiadores”.
Isso reforçava as opiniões sobre a natureza humana e a economia política definidas por Thomas Hobbes e Thomas Robert Malthus: a vida era uma luta sem fim por recursos escassos. E, principalmente, Herbert Spencer que aplicou a seleção natural à economia, com sua infame “sobrevivência do mais apto” para justificar o capitalismo laissez-faire; o “darwinismo social“.
Kropotkin observou que “havia dependência mútua entre carnívoros, ruminantes e roedores em sua distribuição geográfica; testemunhamos vários fatos de apoio mútuo, mas fatos de real competição e luta entre animais superiores da mesma espécie raramente passavam por mim, embora eu os procurasse ansiosamente.” Isso não era exceção; era a regra.
Ele coletou descrições de todo o mundo dos comportamentos sociáveis de formigas, abelhas, cupins, falcões, andorinhas, cotovias com chifres, pássaros migratórios, gazelas, búfalos, colônias de castores, esquilos, ratos, bandos de focas, manadas de cavalos selvagens, matilhas, marmotas, chinchilas, bem como gorilas e macacos. Escreveu:
“Quando subimos na escala da evolução, vemos a associação crescendo de forma cada vez mais consciente. Ela perde seu caráter puramente físico, deixa de ser simplesmente instintiva, torna-se racional.”
Kropotkin baseou-se na biologia, sociologia, história, etnologia (antirracista) e antropologia para argumentar que as espécies podem se organizar e cooperar para superar o ambiente natural e garantir sua sobrevivência futura.
É a ideia de ‘Ajuda Mútua‘: o princípio do apoio mútuo e da cooperação entre as espécies constituindo um fator de sobrevivência e progresso. A cooperação mútua, muito mais do que a competição, ajuda o homem a lidar com a natureza. Junto com a compaixão, os seres humanos poderiam superar a luta competitiva reestruturando e descentralizando voluntariamente a sociedade ao longo de princípios de comunidade e autossuficiência.
Muitos biólogos agora atribuem a Kropotkin o alicerce para todos os estudos subsequentes de altruísmo e mutualismo na seleção natural, e delineando uma estrutura epigenética na qual a hereditariedade e o desenvolvimento são essenciais para o processo de mudança evolutiva. Ativistas sociais e anarquistas abraçam sua refutação sonora do valor político da competição.