
“Hei de cantar as bondades de Ahura Mazda, falarei com gosto da Boa Mente e com reverência sobre a vida dos retos. E, assim fazendo, mencionarei os dois conceitos que preocupam os sábios. Ouça com seus ouvidos aos melhores conselhos reflita sobre eles com julgamento iluminado, deixe que cada um possa escolher seus credos.
Com a mesma liberdade de escolha que todos devem ter em grandes eventos, Ó você, acorde para estes meus anunciamentos.
No começo haviam dois princípios gêmeos espontaneamente ativos. Esses eram Spenta Maynu (o Bem) e Angra Maynu (o Mal) em pensamento, em palavra e ação.
Entre esses dois, deixe Mazda escolher o correto. Seja bom, não neutro!
E quando estas duas mentalidades Gêmeas vieram juntas elas primeiramente estabeleceram a Vida e a Recusa da Vida; assim deve ser até o mundo durar.
A má-aventurança é a conseqüência de seguir o mal, e o estado da Melhor Consciência a recompensa dos justos.” (Gathas, capítulo 3, versos de 1 a 4)
Nos Gathas de Zoroastro, Ahura Mazda, “O Senhor da Sabedoria” (o antigo nome de Ohrmazd), era o pai dos espíritos gêmeos: o Santo (Spenta Maynu) e o Destrutivo (Angra Maynu, ou Ahriman).
Mais tarde, em partes mais recentes do Avesta (livro sagrado do zoroastrismo), Ahura Mazda tornou-se identificado com o Santo (o Bem), tornando-se assim o oposto direto de Angra Maynu, e no mesmo nível dele.
Zoroastro, suspeita-se, viveu entre os séculos VII e VI a.C. Teria vivido isolado durante muitos anos no deserto e, aos 30 anos, teria recebido os sete ensinamentos do deus Ohrmazd, o que o levou a iniciar a divulgação de uma religião baseada nos ideais de pureza e igualdade.
Essas são noções sobre o zoroastrismo. Alguns de seus pontos, como a escatologia, demonologia, crenças no paraíso, na ressurreição, no juízo final e na vinda de um messias, influenciariam o judaísmo, o cristianismo, o islamismo e outras religiões monoteístas.
No século VI a.C., o fundador do império Persa, Ciro II (o Grande), adotou o zoroastrismo como religião oficial do império, mas foi tolerante em relação às religiões dos povos que nele viviam. Foi ele quem libertou os judeus e permitiu o regresso destes à Palestina. A classe sacerdotal do império Persa era constituída de ‘magos’. Os três reis magos citados nos Evangelhos seriam, possivelmente, sacerdotes zoroastristas.
«Entrando na casa, viram o menino, com Maria sua mãe. Prostrando-se, o adoraram; e abrindo os seus tesouros, entregaram-lhe suas ofertas: ouro, incenso e mirra. Sendo por divina advertência prevenidos em sonho a não voltarem à presença de Herodes, regressaram por outro caminho a sua terra.» (Mateus 2: 11-12)

No seu auge, por volta de 620 d.C., o império Sassânida governava um território que se estendia de Jerusalém, no oeste, a Samarcanda, no leste. A religião predominante ainda era o zoroastrismo. O rei dos sassânidas era comparado a Ohrmazd, o bom Deus criador: assim como Ohrmazd vence o espírito maligno Ahriman, também o rei triunfa sobre seus inimigos no campo de batalha. Por pelo menos 1.000 anos, a fé zoroastriana dominou os impérios da Pérsia.
Em 651 d.C., o império Sassânida entrou em colapso. Yazdegird III, o último rei sassânida, foi assassinado. Os remanescentes da família real fugiram para a China. Foi uma derrota total, sem precedentes na história iraniana.
Para os zoroastrianos, foi uma derrota de proporções apocalípticas. O fato de que uma fé rival (islamismo) pudesse destruir completamente a “boa religião” – que Ohrmazd revelou ao profeta Zoroastro milhares de anos antes – violava as leis fundamentais do próprio Universo.
Na concepção zoroastriana, o progresso do tempo é fixo e irreversível. Quando Ahriman tomou conhecimento de Ohrmazd no reino espiritual ainda não criado, os dois fizeram um pacto para lutar por 9.000 anos.
A conquista islâmica perturbou essa progressão constante do universo zoroastriano. O próprio tempo pareceu que havia descarrilhado. Os zoroastrianos foram forçados a repensar seu mundo.