“Eu acredito que a educação deve ser concebida como uma reconstrução contínua, que o processo e o objetivo da educação são iguais.” (John Dewey)

Tara Westover on Turning Her Off-the-Grid Life Into a Remarkable Memoir |  Vogue
(Tara Westover)

Tara Westover obteve, em 2014, o título de doutora aos 27 anos de idade, na Universidade de Cambridge – uma das mais prestigiadas do mundo. Não é fácil, é para poucos, mas, o estranho é que ela não teve qualquer educação formal na infância ou feito o ensino médio.

Tara era a mais nova entre sete irmãos de uma família mórmon.

Seu pai dizia que a escola pública era uma tática do governo para afastar as pessoas de Deus. Deus, aliás, havia dito aos seu pai (segundo ele) que divulgasse essa revelação entre as pessoas que moravam por ali, o que ele fazia aos domingos, na saída da pequena igreja que frequentava. Aproveitava para anunciar os pecados do leite.

A família passava os meses quentes estocando frutas em potes, porque o pai dizia que iriam precisar nos Dias da Abominação. Apoiava-se, entre outros textos, em II Tessalonicenses 2: 3-4: “Não vos deixeis seduzir de modo algum por pessoa alguma, porque deve vir primeiro a apostasia, e aparecer o homem ímpio, o filho da perdição, o adversário, que se levanta contra tudo que se chama Deus, ou recebe culto, chegando a sentar-se pessoalmente no templo de Deus, e querendo passar por Deus.”

Nesses Dias da Abominação, o Sol escureceria e a Lua pingaria como se fosse sangue. O Mundo dos Homens sucumbiria, mas essa família continuaria, inabalável. Todos dormiam com uma mala pronta, para o caso de fuga.

Estocava também muito mel, seguindo Isaías 7: 14-16:

“Portanto o mesmo Senhor vos dará um sinal: Eis que a virgem conceberá, e dará à luz um filho, e chamará o seu nome Emanuel.
Manteiga e mel comerá, quando ele souber rejeitar o mal e escolher o bem.
Na verdade, antes que este menino saiba rejeitar o mal e escolher o bem, a terra, de que te enfadas, será desamparada dos seus dois reis.”
(A redação muda, dependendo da versão. A Bíblia de Jerusalém, por exemplo, fala de ‘jovem’, ao invés de ‘virgem’; e ‘coalhada’, não ‘manteiga’.)

Além de proibir os filhos de irem à escola, também não iam a hospitais e médicos; a mãe era parteira e curandeira. Não tinham, sequer, certidões de nascimento, para que o governo não ‘soubesse’ da existência deles.

Tara se lembra que, com medo de incursões de agentes federais, seu pai comprou armas poderosas o bastante para derrubar um helicóptero.

Embora não pudesse frequentar escolas, tinha sido criada com uma crença feroz na capacidade de qualquer um aprender o que quer que fosse desde que se concentrasse naquilo. “Meus pais diziam: ‘Você pode ensinar qualquer coisa a si mesmo melhor do que outra pessoa o faria'”, diz ela.

Por volta dos 17 anos, Tara resolveu tentar uma nova vida. Aprendeu matemática, gramática e ciências, por conta própria, e prestou vestibular. Foi admitida na Universidade Brigham Young. Depois foi para Harvard e, finalmente um doutorado em Cambridge, na Inglaterra.

“Eu acho que muitas pessoas cresceram com a ideia de que não podem aprender as coisas por conta própria. Elas acham que precisam de uma instituição para lhes suprir conhecimento e ensinar a como fazer as coisas. Eu não poderia discordar mais”. (Tara Westover)

Suas memórias estão no livro “A menina da montanha”.

Publicado por Dorgival Soares

Administrador de empresas, especializado em reestruturação e recuperação de negócios. Minha formação é centrada em finanças, mas atuo com foco nas pessoas.

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