Viver só não é um ‘problema’ para quem se dá bem consigo, para os que têm uma riqueza interior que o contenta, como a gordura que nos mantém nos jejuns. O mundo que carregamos pode, ou não, gerenciar sua energia, ou somos satélites.
Solidão é uma praga dos nossos tempos, apesar – ou talvez por conta – das redes sociais.
A palavra ‘solidão’ – ou o sentimento – é relativamente nova. Um dos seus primeiros usos foi em Hamlet, de Shakespeare, escrita por volta de 1600: Polônio implora a Ofélia – ‘Leia este livro, esse exercício pode colorir sua solidão.’
Em 1674, o naturalista inglês John Ray incluiu “solidão” em uma lista de palavras raramente usadas e a definiu como um termo para descrever lugares e pessoas “longe de seus vizinhos”.
“Ao longo do século 16, a solidão era frequentemente evocada em sermões para assustar os frequentadores da igreja do pecado – as pessoas eram solicitadas a se imaginarem em lugares solitários como o inferno ou o túmulo.” (Samantha Rose Hill)
A solidão era uma punição. Interesses econômicos (procriação e reprodução da força de trabalho) aliavam-se aos morais. Solidão e abandono eram usadas para despertar o terror da inexistência dentro dos homens, para levá-los a imaginar o isolamento absoluto, separado do mundo e do amor de Deus.
Em Gênesis, 2, 18, Iahweh Deus disse “Não é bom que o homem esteja só”. Essa frase foi muito utilizada.
A solidão é uma doença, algo a ser curado? Para muitos, sim. Pessoas esvaziadas, meio ocas.
O totalitarismo – de todas as cores – sabe bem como usar a ‘fragilidade’ ao se estar só. Aliás, ele encontrou uma maneira de cristalizar a solidão ocasional em um estado de ser permanente.
Para Hannah Arendt, “o que prepara os homens para a dominação totalitária no mundo não totalitário é o fato de que a solidão, antes uma experiência limítrofe geralmente sofrida em certas condições sociais marginais como a velhice, tornou-se uma experiência cotidiana das massas sempre crescentes de nosso século.”
Os regimes totalitários fazem uso da “ideologia”, usada como uma forma de divorciar o pensamento da ação, aproveitando-se da vulnerabilidade dos solitários, carentes de atenção e aprovação.
Para Arendt a solidão corta radicalmente as pessoas da conexão humana. Ela definiu a solidão como uma espécie de deserto onde a pessoa se sente abandonada por todo o mundanismo e companheirismo humano, mesmo quando cercada por outras pessoas.
Há cura? Sim: pensamento aberto, ver-se como parte, fortalecimento da autoestima e do respeito ao próximo e, abraçar a solidariedade.