“O poema tem que resistir à inteligência, até quase conseguir”

Poetry and National book award winner, Wallace Stevens. March 1951. (AP Photo)
(Wallace Stevens)

“Não há mudança de morte no paraíso?
A fruta madura nunca cai? Ou faça os ramos
Pendure sempre pesado naquele céu perfeito,
Imutável, mas tão parecido com nossa terra perecendo,
Com rios como o nosso que procuram mares
Eles nunca encontram, as mesmas margens recuando
Que nunca toque com angústia inarticulada?
Por que colocar a pera nas margens do rio
Ou temperar as praias com odores de ameixa?
Que pena que eles devem usar nossas cores lá,
As tecelagens de seda de nossas tardes,
E escolha as cordas de nossos alaúdes insípidos!
A morte é a mãe da beleza, mística,
Dentro de cujo seio ardente planejamos
Nossas mães terrenas esperando, sem dormir.” (Trecho do poema “Domingo de manhã”)

CANÇÃO

Há coisas esplêndidas acontecendo

No mundo,

Coelhinho.

Há uma donzela,

Mais doce que o som do salgueiro,

Mais suave que água rasa

Correndo sobre seixos.

No domingo,

Ela veste um casaco longo,

Com doze botões.

Conta isso à tua mãe.

O CÉU CONCEBIDO COMO UM TÚMULO

Que me dizeis, intérpretes, dos que

No túmulo do céu andam à noite,

Fantasmas negros da comédia finda?

Creem, talvez, que vagarão pra sempre

No frio, no escuro, com lanternas altas,

Libertos da morte, a buscar sem trégua

O que quer que busquem? Ou a lembrança

Do enterro, portão da espiritual

Chegada ao nada, é antevisão diária

Daquela noite única e abissal

Em que as hostes não mais caminharão,

Nem mais lanternas riscarão a treva?

Gritai essa pergunta aos céus, que a ouçam

Os sombrios comediantes, e a respondam

Do seu longínquo e gélido Élysée.

“É uma ilusão que alguma vez fomos vivos,

que vivemos na casa de nossas mães, que nos organizamos

por nossos próprios movimentos em uma liberdade etérea (…)

Mesmo nossas sombras, as sombras deles, não mais permanecem.

Essas vidas vividas na mente estão chegando ao fim.

Elas nunca foram … Os sons da guitarra “

Vida de poeta foi algo que Wallace Stevens (1879–1955) definitivamente não teve: rico, eleitor do Partido Republicano, quase sempre de terno e gravata nas fotos, trabalhou desde 1916 numa grande companhia de seguros, chegando a tornar-se vice-presidente da firma. Viajava principalmente a trabalho – nunca foi à Europa – e, quando fazia uma viagem de lazer, ia principalmente à Flórida, sem a mulher, onde pescava, bebia (ela não o deixava beber em casa) e brigava (uma vez com Hemingway, de quem levou uma surra).

Traduções e comentário de Paulo Henriques Britto.

Publicado por Dorgival Soares

Administrador de empresas, especializado em reestruturação e recuperação de negócios. Minha formação é centrada em finanças, mas atuo com foco nas pessoas.

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