
Neste ano comemora-se os 250 anos do nascimento de Beethoven. Prometi escrever sobre sua vida, ao longo do ano.
Em 1812, ele estava com 41 anos. Já havia realizado suas primeiras aspirações. Aceitara o lugar de sucessor de Mozart e Haydn como o mais aclamado compositor da Europa.
Em 17 de julho daquele ano, escreveu uma carta para a jovem Emilie M., aparentemente uma menina ao redor de 10 anos que tocava piano e que havia bordado uma capa de livro e lhe enviara com palavras de admiração. Beethoven não a conhecia, mas lhe enviou esta resposta:
“Minha querida e gentil Emilie, querida amiga!
Minha resposta à sua carta vai chegar atrasada. Uma grande quantidade de trabalho e uma enfermidade persistente podem me desculpar. O fato de que estou aqui para recuperar minha saúde comprova a verdade de minhas desculpas.
Não roube a Haendel, Haydn e Mozart os seus lauréis. Eles os merecem, mas eu ainda não mereço nenhum.
A capa de livro que bordou será guardada como um tesouro, junto com outras provas de consideração que muitas pessoas me dispensaram, mas que ainda estou longe de merecer.
Persevere, não apenas pratique sua arte, mas se esforce também para compreender seu significado interior, merece o esforço. Porque apenas a arte e a ciência podem elevar os homens ao nível dos deuses. Se algum dia, minha querida Emilie, tiver o desejo de possuir qualquer coisa, não hesite em me escrever.
O verdadeiro artista não tem orgulho. Ele vê, infelizmente, que a arte não tem limites. Ele tem uma vaga percepção de quão longe ainda está de seu objetivo; e, embora outros possam talvez admirá-lo, ele lamenta ainda não ter chegado ao ponto, caminho que seu melhor talento apenas ilumina como um sol distante.
Eu preferiria visitá-la, e à sua família, que visitar pessoas ricas que traem a si mesmas com a pobreza do íntimo do seu ser.
Não conheço maior privilégio do que ser incluído entre as melhores criaturas de seus semelhantes. Onde eu as encontro, aí também encontro o meu lar. (…)
Beethoven já havia demonstrado essa humildade ao responder a uma carta da cantora Christine Gerhardi, em 1797, na qual afirmava: “… é um sentimento peculiar ver-se elogiado e, ao mesmo tempo, perceber a própria inferioridade, como eu percebo.”
Ele sempre se manteve consciente de seu potencial de crescimento. Por isso era um “gênio”.