“Certa vez olhamos para o mundo, na infância. O resto é memória.”

6 poemas de Louise Glück, a Prêmio Nobel de Literatura de 2020 - Jornal  Opção
(Louise Glück)

Louise Glück foi a vencedora do Prêmio Nobel de Literatura deste ano. Não conhecia.

“… ela se inspira em mitos e motifs clássicos, presentes na maior parte do seu trabalho. As vozes de Dido, Perséfone e Eurídice — a abandonada, a punida, a traída — são máscaras para um eu lírico em transformação, tão pessoal quanto válido de maneira universal”, afirmou a Academia Sueca.

Imaginando que seja desconhecida para muitos, trago alguns de seus poemas.

Confissão (Louise Glück)

“Dizer eu não sinto medo –
Não seria honesto.
Sinto medo da doença, da humilhação.
Como todo mundo, tenho os meus sonhos.
Mas aprendi a escondê-los,
Para me proteger
Da realização: toda felicidade
Atrai a fúria das Sinas.
Elas são irmãs, selvagens –
No final, não há
Emoção, mas inveja.”

(tradução de Camila Assad)

A rosa branca

“Isto é a terra? Então

não sou daqui

Quem és tu na janela acesa,

agora à sombra das folhas trêmulas

do viburno?

Podes sobreviver onde não vou durar

Além do próximo verão?

A noite inteira os galhos esguios da árvore

movem-se e sussurram à janela iluminada.

Explica a minha vida, tu que não fazes sinal algum,

embora eu chame por ti na noite:

não sou como tu, tenho apenas

meu corpo como voz; não posso

desaparecer no silêncio —

E na manhã fria

sobre a superfície escura da terra

vagueiam ecos da minha voz,

brancura que firme se consome em escuridão

como se finalmente fizesses um sinal

para me convencer de que também não pudeste sobreviver aqui

ou para me mostrar que não és a luz que chamei

mas o breu atrás dela.”

(Viburno: planta flexível como o vime e que se enrosca às árvores)

(tradução de Maria Lúcia Milléo Martins)

O dilema de Telêmaco

“Nunca consigo decidir

o que escrever

nas lápides de meus pais. Sei

o que ele quer: ele quer ser

amado, o que por certo

vai direto ao ponto, particularmente

se contarmos todas

as mulheres. Mas

isso deixa minha mãe

a descoberto. Ela me diz

que isto não lhe importa

para nada; ela prefere

ser representada por

suas próprias conquistas. Parece

pura falta de tato lembrar aos dois

que alguém não

honra aos mortos perpetuando

suas vaidades, suas

projeções sobre si mesmos.

Meu próprio gosto dita

precisão sem

tagarelice; eles são

meus pais, consequentemente

eu os vejo juntos,

às vezes inclinado a

marido e mulher, outras a

forças opostas.”

(tradução de Pedro Gonzaga)

Publicado por Dorgival Soares

Administrador de empresas, especializado em reestruturação e recuperação de negócios. Minha formação é centrada em finanças, mas atuo com foco nas pessoas.

Deixe um comentário

Preencha os seus dados abaixo ou clique em um ícone para log in:

Logo do WordPress.com

Você está comentando utilizando sua conta WordPress.com. Sair /  Alterar )

Imagem do Twitter

Você está comentando utilizando sua conta Twitter. Sair /  Alterar )

Foto do Facebook

Você está comentando utilizando sua conta Facebook. Sair /  Alterar )

Conectando a %s

%d blogueiros gostam disto: