
Louise Glück foi a vencedora do Prêmio Nobel de Literatura deste ano. Não conhecia.
“… ela se inspira em mitos e motifs clássicos, presentes na maior parte do seu trabalho. As vozes de Dido, Perséfone e Eurídice — a abandonada, a punida, a traída — são máscaras para um eu lírico em transformação, tão pessoal quanto válido de maneira universal”, afirmou a Academia Sueca.
Imaginando que seja desconhecida para muitos, trago alguns de seus poemas.
Confissão (Louise Glück)
“Dizer eu não sinto medo –
Não seria honesto.
Sinto medo da doença, da humilhação.
Como todo mundo, tenho os meus sonhos.
Mas aprendi a escondê-los,
Para me proteger
Da realização: toda felicidade
Atrai a fúria das Sinas.
Elas são irmãs, selvagens –
No final, não há
Emoção, mas inveja.”(tradução de Camila Assad)
A rosa branca
“Isto é a terra? Então
não sou daqui
Quem és tu na janela acesa,
agora à sombra das folhas trêmulas
do viburno?
Podes sobreviver onde não vou durar
Além do próximo verão?
A noite inteira os galhos esguios da árvore
movem-se e sussurram à janela iluminada.
Explica a minha vida, tu que não fazes sinal algum,
embora eu chame por ti na noite:
não sou como tu, tenho apenas
meu corpo como voz; não posso
desaparecer no silêncio —
E na manhã fria
sobre a superfície escura da terra
vagueiam ecos da minha voz,
brancura que firme se consome em escuridão
como se finalmente fizesses um sinal
para me convencer de que também não pudeste sobreviver aqui
ou para me mostrar que não és a luz que chamei
mas o breu atrás dela.”
(Viburno: planta flexível como o vime e que se enrosca às árvores)
(tradução de Maria Lúcia Milléo Martins)
O dilema de Telêmaco
“Nunca consigo decidir
o que escrever
nas lápides de meus pais. Sei
o que ele quer: ele quer ser
amado, o que por certo
vai direto ao ponto, particularmente
se contarmos todas
as mulheres. Mas
isso deixa minha mãe
a descoberto. Ela me diz
que isto não lhe importa
para nada; ela prefere
ser representada por
suas próprias conquistas. Parece
pura falta de tato lembrar aos dois
que alguém não
honra aos mortos perpetuando
suas vaidades, suas
projeções sobre si mesmos.
Meu próprio gosto dita
precisão sem
tagarelice; eles são
meus pais, consequentemente
eu os vejo juntos,
às vezes inclinado a
marido e mulher, outras a
forças opostas.”
(tradução de Pedro Gonzaga)