
Houve uma época em que os operários queriam ter voz! Na República Velha (1889-1930), quando os governos oligárquicos tratavam a questão social como “caso de polícia” (acabou?), trabalhadores queriam reduzir a jornada para oito horas diárias e melhorias no ambiente de trabalho!
Os imigrantes, principalmente espanhóis e italianos, não eram tão dóceis quanto o desejado. E estavam impregnados das ideias anarquistas de Bakunin, Kropotkin e Proudhon: o operariado tinha como objetivo final a implantação de uma sociedade igualitária, antecedida da destruição do capitalismo. Chegaram a planejar uma Insurreição anarquista, no Rio, em 1918.
Mas, o anarquismo não sabe construir, só por abaixo. Organização, condução, estruturação … não fazem sentido para o movimento anarco; no caso, anarcossindicalista. Energia que se dissipa e exaure. Foi o caso, por exemplo, da Insurreição: confiaram o planejamento a um militar, o tenente Jorge Elias Ajuz, a quem coube a estratégia militar do levante. Mas, o ‘lider’ era um espião das forças do governo e atuava como agente provocador.
Após esses movimentos, o anarquismo cedeu seu lugar para o socialismo, após a ‘vitória’ da revolução russa.
Mas, de 1917 até meados de 1919, as greves se sucediam.
“São Paulo é uma cidade morta: sua população está alarmada, os rostos denotam apreensão e pânico, porque tudo está fechado, sem o menor movimento. Pelas ruas, afora alguns transeuntes apressados, só circulavam veículos militares, requisitados pela Cia. Antártica e demais indústrias, com tropas armadas de fuzis e metralhadoras.
Há ordem de atirar para quem fique parado na rua. Nos bairros fabris do Brás, Moóca, Barra Funda, Lapa, sucederam-se tiroteios com grupos de populares; em certas ruas já começaram fazer barricadas com pedras, madeiras velhas, carroças viradas e a polícia não se atreve a passar por lá, porque dos telhados e cantos partem tiros certeiros. Os jornais saem cheios de notícias sem comentários quase, mas o que se sabe é sumamente grave, prenunciando dramáticos acontecimentos.” (Everardo Dias)
Um desses ‘agitadores’ mais ativos era Everardo Dias, espanhol que chegou ao Brasil com três anos de idade. Trabalhou como operário gráfico e jornalista. Era maçom e socialista. Foi um dos líderes no movimento anticlerical em São Paulo e defendia a necessidade de escolas para o povo e a emancipação feminina.
Preso em 1919, foi torturado e deportado. Mas não pôde desembarcar na Espanha por ser considerado brasileiro (era naturalizado e tinha seis filhas no Brasil). Por intervenção da maçonaria, conseguiu a revogação de sua expulsão.
Voltaria a ser preso em 1923 por uma suposta participação numa insurreição contra o governo de Artur Bernardes. Preso, novamente – por três anos -, após a Revolta Paulista de 1924. Na Intentona Comunista de 1935, foi preso (por dois anos), claro, embora sem provas de seu envolvimento.
Uma vida atribulada, nada quieta, agitada. Morreria em 1966, aos 80 anos.
Excelente artigo, parabéns! Também me interesso pelo assunto, defendo a tese de que a falência das famílias esta escravizando o Brasileiro perante o Estado; as pessoas estão cada vez mais dependentes de pensão e esmola estatal, segundo dados dos IBGE… https://davipinheiro.com/divorcio-sem-justa-causa-como-escravidao-do-brasileiro/
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