
Bernard le Bovier de Fontenelle influenciou com sua obra as grandes personalidades do Iluminismo. Sabia transmitir as ideias, mesmo as científicas e elaboradas eruditamente, de uma forma bastante palatável e compreensível para a maioria das pessoas na sociedade. Se as ciências em geral e a filosofia, em especial, se tornaram populares na França, foi graças ao pioneiro esforço de Fontenelle, que estimulou vocações, inclusive com seu talento de divulgador. Morreu centenário em 1757, aparentemente sem nenhuma doença, sentindo apenas, como disse, uma “certa dificuldade em continuar vivendo”.
A ciência da época surpreendia e deslocava o pensamento das pessoas. Os conceitos se dilaceravam, lenta mas ininterruptamente, e o novo trazia novas formas de percepção e pensamentos.
Ciência e ficção científica, antes da palavra existir. Entre as questões que ele levantava (quanto tinha 29 anos) estavam: “Existem extraterrestres inteligentes? Já vieram à Terra? Tomamos eles por deuses? Iremos visitá-los?”
Ele percebeu que, ao contrário do passado, onde o saber só interessava a um grupo restrito de especialistas, havia um público com ‘demanda de saber’.
Ele estrutura sua divulgação em dois blocos: o que é absolutamente certo e provado e o que é matéria de discussão (“é possível pensar os corpos celestes como habitados?”, por exemplo).
No livro “Diálogos sobre a Pluralidade dos Mundos”, ele dialoga como interlocutor uma marquesa “que nunca ouvira falar de tais assuntos. Uma mulher que apesar de ignorante, interessa-se por saber coisas abstratas. Usa uma linguagem sem tecnicismos, aliando razão e imaginação, mantendo-a atrativa. Exemplo:
“Já reparaste, que uma bola, rolando pelo chão, tem dois movimentos? Ela desloca-se para o extremo da área ao mesmo tempo que gira uma porção de vezes sobre si mesma, de modo que, cada vez que a parte de cima desce, a de baixo sobe.
A Terra procede de modo idêntico. Ao mesmo tempo que avança sobre o círculo que descreve em um ano ao redor do Sol, gira sobre si mesma em vinte e quatro horas …”