
Corrupção, em suas várias formas, é coisa antiga. Nalguns locais, com bom clima, ela produz safras diárias.
Ao acordar, ligo o noticiário para saber quem foi preso. À noite, descubro os que foram soltos. Hoje, 29 de setembro, a ação da PF foi no Pará: o STJ vê ‘robustos indícios da anuência e participação’ do governador Helder Barbalho em esquema criminoso dedicado a desvios de recursos da Saúde destinados a contratação de organizações sociais para gestão de hospitais públicos do Pará. Não há de ser nada. O governador até elogiou a ação: “Sobre a operação da Polícia Federal, que ocorre nesta terça-feira, o Governo do Estado esclarece que apoia, como sempre, qualquer investigação que busque a proteção do erário público.”
É pra chorar!
Neste ano, o Brasil caiu uma posição e está na pior colocação no ranking mundial de “percepção sobre combate à corrupção” no setor público desde 2012. Ficou em 106º lugar entre 180 países, atrás do Sri Lanka, Vietnã, Timor Leste, Etiópia e Arábia Saudita, por exemplo. Na América do Sul, ficamos atrás de Uruguai, Chile, Colômbia e Argentina; mas estamos melhores do que Bolívia, Paraguai e Venezuela. Esperemos a avaliação de 2021.
Em Atos dos Apóstolos, conta-se da esperteza de Ananias e Safira, sua mulher. “Ninguém considerava exclusivamente seu os bens que possuía, mas todos compartilhavam tudo entre si.” (Atos 4: 32)
“Entrementes, um certo homem chamado Ananias, com sua esposa Safira, também vendeu uma propriedade. Mas ele reteve parte do dinheiro da venda para si, tendo conhecimento disso também sua esposa. Ele levou a parte restante e a depositou aos pés dos apóstolos.” (Atos 5: 1-2)
Foram exterminados. E olha que eles retiveram parte do que antes era deles! Seria equivalente a sonegar parte de impostos. A punição serviu de exemplo para os demais.
Joseph Needham até inventou uma palavra para esse tipo de coisa: “nosfimérico“; formado a partir do grego ‘nosphizein‘ (sequestrar) e ‘meros’ (uma parte).
Corrupção é mais clara: significa ‘decomposição’. Vem do termo latino ‘corruptione‘, junção de ‘cor’ (coração) e ‘rupta’ (quebra, rompimento). Romântico, acho.