“A Alemanha fez penitência pelo holocausto. Mas o Brasil ainda deve a sua pelo que fez com os índios e os negros.” (Lutzenberger)

José Lutzenberger – Wikipédia, a enciclopédia livre
(José Lutzenberger)

“A sociedade de consumo é, no fundo, uma religião fanática, um fundamentalismo pior do que o do Bin Laden. Está arrasando o planeta.”

“Em Brasília, todos são cínicos e não entendem como você não possa ser.” (sobre sua passagem como ministro do governo Collor)

Eu era jovem, acreditava nas pessoas e no Brasil (tinha saído da miséria para algo promissor) e, num dos anos pesados da década de 1970, assisti a uma palestra de José Lutzenberger numa universidade em Recife.

Apesar do “fim do futuro” que ele anunciava, essa clareza me entusiasmava. Era a mesma mensagem, agora política, que ouvia nas palestras de dom Hélder Câmara (“a maneira de ajudar os outros é provar-lhes que eles são capazes de pensar”), também perigosamente frequentadas. As apresentações de D. Hélder eram frequentemente seguidas de corridas dos pastores alemães de Moura Cavalcanti, o cão-de-guarda da ditadura em Pernambuco.

Lutzenberger falava, há quase 50 anos atrás, sobre as matrizes energéticas poluidoras e geradoras de mudanças climáticas, a insustentabilidade dos padrões globais de produção e consumo, os problemas da agropecuária com a contabilidade energética e hídrica e da poluição química!

“Encontramo-nos num divisor de eras. Precisamos ver a inter-relação de tudo o que há no planeta, a maravilhosa sinfonia da evolução orgânica”, pregava.

Este gaúcho começou sua vida profissional como executivo de multinacionais do setor agrícola mas, no fim dos anos 1960 se desiludiu com suas políticas agrícolas danosas para o meio ambiente. Largou seu emprego para dedicar-se à causa do ambientalismo. Atitude!

Passou a fazer palestras mundo afora, em português, espanhol, francês, alemão e inglês.

Dizia que os “ambientalistas” (coisa nova na época) não eram radicais, apocalípticos ou líricos: “Apenas somos realistas. A realidade é grave.”

No governo, promoveu a desocupação da área ianomâmi, que havia sido retalhada pelo ex-presidente da Funai, o inocente Romero Jucá.

Criou um grupo interministerial para propor critérios de contabilidade ambiental para avaliação de todos os projetos públicos e privados sujeitos a licenciamento. Com sua saída do governo, em 1992, a proposta foi para o lixo.

Para ele, o capital natural teria que ter igualdade com o capital humano e o financeiro, para que seja possível o desenvolvimento sustentável. Um exemplo: segundo estudos da Universidade Johns Hopkins, da época, era o da floresta amazônica: os serviços que ela presta na regularização do regime hidrológico e na absorção de dióxido de carbono valem três vezes mais que a madeira extraída ou o carvão produzido.

“Precisamos de uma glasnost global; somos hóspedes, e não senhores da natureza.” (Gorbachev)

Lutzenberger morreu em 2002. Não pode ser esquecido. Estava muito à frente de seu tempo.

Publicado por Dorgival Soares

Administrador de empresas, especializado em reestruturação e recuperação de negócios. Minha formação é centrada em finanças, mas atuo com foco nas pessoas.

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