Andrei Sakharov (1921–1989) é considerado o pai da bomba de hidrogênio soviética. No entanto, mais tarde ele se tornou um forte crítico do programa soviético de armas nucleares e da falta de liberdade política do sistema. Abriu mão de todos os privilégios para desafiar o regime soviético, ao partir na sua cruzada pela liberdade.
Na URSS, tecer críticas à lógica dos dirigentes do país, ainda que no plano teórico, era considerado crime gravíssimo contra o “Estado”. Mudou pouco.
Em 1975, em reconhecimento aos seus esforços, ele recebeu o Prêmio Nobel da Paz. Depois disso, ele continuou trabalhando pelos direitos humanos . Suas declarações aos correspondentes ocidentais em Moscou eram frequentes.
Não parou sua pregação mesmo quando, em 1974, Alexander Soljenítsin, o mais conhecido dissidente, foi expulso.
No início dos anos 80, ele denunciou a invasão soviética do Afeganistão. Foi, então, exilado em Gorky, cidade que só podia ser visitada por quem tivesse permissão da polícia. Não podia, também, deixar o país.
Ele foi punido sobretudo por insistir na necessidade de Moscou aceitar um controle de armamentos estratégicos, um tratado de não-proliferação de armas nucleares, pondo fim ao risco permanente de um conflito que poderia erradicar de vez todo e qualquer vestígio de vida no planeta.
Convertido à causa do pluralismo e da paz engajou-se de corpo e alma na missão de denunciar as falácias totalitárias do establishment.
“Por maior e mais poderosa que seja a nação, ela perde toda sua respeitabilidade quando nega aos cidadãos os direitos e liberdades fundamentais. Uma nação não pode ser considerada desenvolvida se os seus cidadãos não têm ao menos o direito de reunião, de expressão, de livre circulação, de a deixarem quando bem entenderem. O sonho soviético de 1917 converteu-se num terrível pesadelo.”
“Quando era jovem, pensei que poderia compreender a mensagem e a essência do socialismo, tal como foi estabelecido em meu país. Foi um erro. Hoje, estou convencido de que me deixei iludir, como tantos, por palavras vazias e sem sentido, pura propaganda para consumo interno e externo. Hoje, posso afirmar com convicção que não sou socialista, não sou marxista-leninista e nem tampouco comunista. Com todas as minhas limitações, considero-me, em primeiro lugar, um homem livre.”
Morreu em dezembro de 1989, de ataque cardíaco; dois anos antes da dissolução da URSS.