
Por volta do ano 1000, sobreviver era para poucos, e por pouco tempo; as pessoas morriam aos 30 anos, em média. Guerras, pestes, explorações e fome.
A produtividade da terra era proporcional à tecnologia disponível. Os camponeses lavravam a terra com arados dotados de uma relha em madeira endurecida ao fogo, como ainda se vê nalguns pontos da África.
Quando se conseguia colher 2,5 grãos para cada grão plantado era uma festa! Para termos uma comparação, atualmente colhe-se 2,5 grãos de soja – por vagem – e, uma média de 30 vagens por planta!
Agora imaginem esses trabalhadores, vestidos como no período neolítico, com peles de animais, suando e rezando para que pudessem se alimentar. Na ‘colheita’ ainda tinham que pagar aos homens da guerra e aos da Igreja, que saqueavam todo o suposto excedente de produção!
O amanhã significava medo; não pensavam nele, pulavam para a eternidade.
Apesar disso, eram solidários e fraternos entre eles. A pobreza não é mesquinha. Só quando se sai da faixa de extrema necessidade e passá-se à acumulação é que a posse torna-se mais importante.
“Como as sociedades africanas, as medievais eram sociedades de solidariedade. O homem estava inserido em grupos: o grupo familiar, o da aldeia, o senhorio, que era um organismo de exação, em troca de segurança social.
Quando sobrevinha um período de fome, o senhor abria seus celeiros para alimentar os pobres.
Existia o medo o medo da penúria repentina, mas não havia a exclusão de uma parte da sociedade lançada ao desespero.
Era gente muito pobre, mas unida.” (Georges Duby)
Houve uma crise de fome na Borgonha, em 1033. Choveu tanto que não se pôde semear nem lavrar a terra. A colheita foi péssima. No ano seguinte, a mesma coisa. Só chuva. No terceiro ano, a situação saiu de controle. Comia-se qualquer coisa: ervas, cactos, aves, insetos, serpentes … Depois, puseram-se a comer terra e, em seguida a desenterrar os mortos para comê-los.