
O unicórnio foi ‘redescoberto’ pelos Padres da Igreja, na Alta Idade Média, a partir de um tratado (“Physiologus”) escrito em Alexandria, entre os séculos II e IV, possivelmente por um gnóstico. Um trecho:
“O unicórnio é pequeno e muito selvagem. Ele possui um chifre na cabeça. Nenhum caçador consegue pegá-lo, a não ser por uma astúcia. Uma virgem o atrai onde ela mora. Quando a vê, o unicórnio pula em seu colo. Ele então é preso e conduzido ao palácio do rei.”
Foi mencionado por Plínio, Solino, Gregório Magno, Da Vinci … Mas, o mito consagrou-se nos popularíssimos poemas de ‘Carmina Burana’, no século XII.
Um animal estranho: ao se deparar com uma virgem, precipita-se sobre os seu seios, e ela amamenta-o para em seguida capturá-lo. A virgindade da moça é uma condição indispensável para o sucesso da caçada. Passa, portanto, por um processo de cristianização na Idade Média. Torna-se uma imagem do Salvador, um chifre de salvação.
“O unicórnio lembra a Virgem por excelência, Maria; sua caça representa alegoricamente o Mistério da Encarnação, no qual ele próprio representa o Cristo espiritual unicórnio e seu chifre, a cruz de Cristo.” (Jacques Le Goff)
No século XV, o teólogo Jean Gerson definiu que há seis sentidos, acrescentando o do coração ou do entendimento que traça um caminho na direção de Deus. Associavam esse último sentido ao unicórnio.
A lenda foi retomada ao longo dos séculos até hoje, com naturais variações.
