
Assim Platão se referia aos mitos: fábulas. Mas, não há como separar quando o mito passou a ser história. Tróia era, até o século XIX, mitológica. Em 1871, Heinrich Schliemann encontrou os restos da cidade também denominada Ilion – de onde deriva o nome Ilíada.
À pergunta “o que existia antes de existir alguma coisa”, os gregos respondiam: os mitos.
O próprio Platão, entretanto, não dispensava os mitos para seus argumentos. Em “As Leis”, fala da Idade de Cronos (que foi destronado por Zeus, seu filho): “… Cronos estava ciente de que nenhum ser humano, por sua natureza tem a capacidade de ter controle absoluto de todos os assuntos humanos sem se locupletar de insolência e injustiça …“
Três ideias, aliás, estão contidas em “Crítias” e “As Leis”:
- a humanidade foi remota e inicialmente governada e cuidada por titãs ou deuses;
- a inevitável corrupção moral e espiritual do ser humano
- a ocorrência de vários dilúvios.
Perguntado se “as antigas tradições encerram alguma verdade”, Clínias responde: “… aquela segundo a qual o mundo dos seres humanos foi diversas vezes destruído por dilúvios, pragas e muitos outros flagelos, de tal modo que apenas uma pequena porção da espécie humana sobreviveu.”
Numa dessas ocasiões, Zeus achou que a humanidade era irrecuperável. Resolveu destruir a todos com fogo. Mas, pensou, um grande incêndio poderia atingir a morada dos próprios deuses. Decidiu-se, então, por um dilúvio. Um casal de ‘justos’, Deucalião e Pirra, foi avisado por Prometeu (esse sempre aprontava), pai de Deucalião.
“Nós dois somos uma multidão”, diria Ovídio, porque o casal seria a nova semente de todos os mortais seguintes.
Essa ‘história’ do dilúvio está em vários textos antigos, inclusive na Bíblia. Ela é mencionada em várias tradições ou mitos: entre os chibchas (da atual Colômbia), maias, no Puranas indiano, na Mesopotâmia (Epopeia de Gilgamesh) …