
Ainda não chegamos a este ponto. Mas, o caminho é natural. Oposição é inaceitável para quem se opõe à democracia. Para os ditadores, mesmo ‘eleitos’, que pensam – ou dizem – representar o melhor para o país, oposição não cabe. O melhor é elimina-lo, de alguma forma.
“Os vídeos angustiantes de ‘Alexei Navalny‘, um blogueiro que capturou a frustração popular na Rússia, gritando em agonia em 20 de agosto de 2020 antes de ser removido inconsciente de um avião para uma ambulância, demonstram a crescente confiança do Kremlin na coerção para controlar a dissidência.
Este ataque não é o primeiro que Navalny sofre. Em 2017, ele foi encharcado com um antibiótico verde que comprometeu sua visão. Em 2019, enquanto estava preso por organizar protestos, ele suspeitou que havia sido envenenado. Navalny também foi condenado ‘por engano’ três vezes por transgressão financeira. Embora tenha sido libertado para evitar que se tornasse um mártir nacional, seu irmão e co-réu, Oleg, cumpriu três anos e meio de prisão.” (Regina Smyth)
O líder da oposição russa, Alexei Navalny, em coma depois que seus familiares denunciaram seu envenenamento, foi internado neste sábado, 22 de agosto, em um hospital de Berlim, em estado “estável”, após ser transferido de um hospital russo.
A ambulância que o transportou foi escoltada pela polícia alemã desde o aeroporto de Berlim até o hospital da Charité, um dos mais prestigiados da Europa.
“Quando ele entrou no cenário nacional em 2010, Navalny trouxe um novo tipo de oposição à política russa. Ele está em sintonia com as preocupações populares e é capaz de encontrar um terreno comum entre ativistas nacionalistas e liberais. Ele pede a remoção do presidente Vladimir Putin por meio de eleições, enquanto articula uma nova visão para a Rússia.
A importância de Navalny não é sobre popularidade. As prisões do Kremlin e as campanhas de desinformação levantaram suspeitas suficientes entre os eleitores de que as pesquisas mostram que ele não ganharia uma eleição nacional, mesmo no caso improvável de uma luta justa.
Em vez disso, o desafio de Navalny ao regime de Putin repousa em suas idéias inovadoras e estratégias de organização que o tornaram uma força na política russa.
Ele começou como advogado, desafiando as grandes empresas de energia russas comprando ações e, assim, ganhando o direito de participar das assembleias de acionistas. Ele usou seu acesso para desafiar a liderança corporativa e liberar documentos para demonstrar má-fé.
Ele estabeleceu a Fundação Anticorrupção – agora rotulada de “Agente Estrangeiro” pelo Kremlin – que coletou relatórios dos cidadãos sobre práticas corruptas. Seu projeto permite que os cidadãos acessem a Internet para relatar buracos – um problema crônico e generalizado na Rússia – e rastrear a resposta do governo.
Navalny ampliou sua luta anticorrupção em 2011, quando rotulou o partido político de Putin, Rússia Unida, de “Partido de Ladrões”. Quando esses esforços contribuíram para o protesto em massa contra a fraude eleitoral, Navalny estava na vanguarda.”