Morrer faz parte. Mas não é uma ideia confortável para os que amam viver. Somos um evento fugaz na infinita história do Universo. Nossa existência, agradável para uns e incômoda para tantos, virará memória, que também se dissipará. O tempo apaga até amor eterno. Apesar disso, não há golpe maior na vida do que o seu fim. Sempre há mais vida para ser vivida, e é doloroso ver isso tirado. O medo dessa finitude é um poderoso propulsor para a Vida. Há os felizardos, que creem numa sequência para a vida, com um paraíso à espera ou, uma reencarnação ou ressurreição, para os que consideram que restou algo a fazer sendo-se o que se é.
“A morte é a grande privação.” (Thomas Nagel)
Epicuro, que viveu entre 341 e 270 a.C., pregava que o propósito da vida seria alcançar a felicidade. Felicidade, para ele, não era a alegria fútil e vã que se divulga, mas o estado caracterizado pela ‘aponia‘, a ausência de dor física e ‘ataraxia’, ou imperturbabilidade da alma. Coisas de gregos, antigos. O caminho para essa felicidade (suave, digamos) seria a ‘moderação’, coisa fora de moda.
O medo da morte não fazia sentido, dizia. Não se pode imaginar como seria estar morto, porque a morte é uma ausência de existência. Não há, literalmente, nada para imaginar – porque o nada em si não pode ser imaginado. Pronto. Perceber que se está morto não é uma experiência.
“A morte não é nada para nós.” (Epicuro)
Lucrécio (94 – 50 a.C.), um epicurista, com um ateísmo dissimulado, propunha seu “Argumento da Simetria”: tente se lembrar de como era antes de você nascer; a existência pré-natal não é algo em que se possa pensar, muito menos vivenciar. A parte simétrica do argumento é que você tem a mesma dificuldade em imaginar como é estar morto. Ambas envolvem a ausência de você. E, se você não teme sua existência pré-natal, logicamente você não deve temer a morte. Simples, lógico.
“É tão irracional temer a não existência depois da vida quanto temer a não existência antes do nascimento.” (Lucrécio)
Mas, para os que acreditam em ‘vidas pregressas’ ou já fizeram ‘terapia de regressão a vidas passadas’, esse argumento não vale. É difícil distinguir crença de experiência.
Se esses argumentos não aliviam o medo da morte podem, pelo menos, aumentar um pouco o prazer de viver.
“O bom senso nos diz que nossa existência é apenas uma breve fenda de luz entre duas eternidades de escuridão.” (Vladimir Nabokov)
(Inspirado num texto de Sam Dresser)
Ler os posts do Mestre Dorgival é adquirir muito conhecimento em cultura.
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Obrigado, Fernando.
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Texto sempre instigante, mesmo depois de ter lido há mais tempo. A não existência, o vir a não ser é a mais definitiva certeza da vida.
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