“Benjamim. Ele é baiano. Preferiu viver em São Paulo porque adora o deserto. Homem de muito saber e sensibilidade, precisa, para resistir a si próprio, de bastante aridez, secura e vazio ao seu redor. Nada melhor, pois, que a cidade de São Paulo, com suas centenas de quilômetros quadrados de concreto armado, veias e artérias de ferro e aço, pele de asfalto e granito. Homens e mulheres, poucos e bons, em número e qualidade suficientes ao seu apetite intelectual, afetivo e sexual. O resto, isto é, quase todas as criaturas que habitam a cidade, Benjamim compara a formigas obreiras, recobertas de quitina do rabo cotó aos ferrões agressivos. Se não mexermos com elas não nos incomodam, porque são muito pacíficas. Estão sempre ocupadas e, em geral, não são carnívoras.” (Roberto Freire, em Cleo e Daniel)
Roberto Freire e seu encantamento por Wilhelm Reich! Mexeu com os bem zelados pudores de uma época. O sexo no centro do mundo, ou das mentes – inconscientes, claro.
Lembro de quando chegava a São Paulo, há quase três décadas, e vi minha primeira peça na cidade, “Escuta, Zé Ninguém!”, de Reich, que denunciava o quanto de Zé Ninguém temos. Como somos conduzidos a pensar e agir por todas as agências de controle que nos cercam: família, religião, políticos, educação escolar, televisão, jornais, redes sociais … que tentam nos impedir de caminhar com as nossas próprias pernas e conduzir nossa vida. Rebuliço.
