
O mundo gira num eixo excêntrico. Muitos ficam à margem, já no nascimento.
As desigualdades os marcam e os aprisionam, não só com tornozeleiras sociais mas com correntes. As chaves são acessadas por poucos; não só por mérito. As pessoas mais carentes não são ‘capazes’ de se organizar e lutar pelo que é natural: dispor do que a Terra propicia. A luta pela sobrevivência os reduz a animais. Só os mais elevados socialmente conseguem ser ‘organizados’ e, corporativamente, defendem e exigem mais espaços políticos e econômicos. Os políticos vivem desse diapasão. A maioria é seu ganha-pão, manipulável a partir de pequenos mimos e ‘atenção’.
As ideias de desenvolvimento nos trouxe até aqui. Ao deserto. Ou um oásis, jamais alcançado.
Nessa linha, Alberto Acosta prega a busca do ‘bem viver’. Bem Viver implica em superar o divórcio entre a Natureza e o ser humano; respeitar os direitos humanos (todos e de todos) e os da Natureza.
Significa viver em aprendizado e convivência com a natureza, fazendo-nos reconhecer que somos “parte” dela e que não podemos continuar vivendo “à parte” dos demais seres do planeta.
Significa romper com o mantra da “acumulação” capitalista, que transforma tudo e todos em coisa.
Para Acosta, só podemos entender o Bem Viver em oposição ao “viver melhor” ocidental (dolce vita), que explora o máximo dos recursos disponíveis até sua exaustão – a extinção das fontes primárias da vida.
É preciso tomar consciência da realidade que estamos construindo, baseada em conceitos irreais de “bem estar”. E ter fé na nossa capacidade de reverter o que tão pressurosamente perseguimos, o infinito no finito.
“Mesmo que o mundo fosse se desintegrar amanhã, ainda assim plantaria minha macieira.” (Martinho Lutero)
A destruição do nosso lar é nossa “entelequia” que, conforme Aristóteles, significa “a realização plena e completa de uma tendência, potencialidade ou finalidade natural, concluindo um processo transformativo de todo e qualquer ser animado ou inanimado do universo”?