
Segall nasceu na Lituânia, então dominada pelo Império Russo, em 1891. Foi um precursor do Expressionismo. Aos 15 anos foi para Berlim, estudar na Academia Imperial. Três anos depois foi desligado da Academia por ter participado de uma exposição de artistas descompromissados com a estética oficial.
Nesta época, sofreu influência do impressionista Max Liebermann.

Em 1923, muda-se para o Brasil, que já havia visitado em 1913.
Durante o período da República de Weimar, Segall teve quadros incorporados a coleções particulares e públicas mas, com a ascensão do nazismo sua arte foi banida dos museus alemães, confiscada e exibida, junto com muitas outras obras de arte moderna, nas Exposições de Arte Degenerada.
Sua arte, de certa forma, procurava expressar emocionalmente a realidade alemã daqueles anos turbulentos, como o quadro “Família enferma”, de 1920:

No Brasil, foi bem acolhido por alguns esclarecidos, como Geraldo Ferraz e Mário de Andrade:
“… Segall vinha, com suas credenciais indiscutíveis de pintor aplaudido na Europa Central, e com sua personalidade portentosa, justificar as aventuras expressionistas de Anita Malfatti, da cubista Tarsila e a grita de nós outros, literatos em cio pictórico, bem como preparar o respeito ambiente para todos os “mauditos” que viessem depois. Essa é a grande função social de Lasar Segall entre nós, um construtor de ambiente.” (Mário de Andrade)
Mas, a praga do antissemitismo já havia chegado por aqui com, entre outros, os integralistas. Nacionalistas, pregavam contra “o estrangeiro”. E, ser judeu não era visto como uma qualidade. Então, surgiram as críticas que o acusavam de realizar uma arte degenerada, oriunda de distúrbios psíquicos.
A ideia de degeneração era uma pseudo-ciência, que “justificava” interesses políticos. Ela surgiu a partir do conceito de loucura desenvolvido por Bénédict Morel, em meados do século XIX, que a associava à degeneração adquirida por hereditariedade.
A ampla divulgação do livro “Degeneração”, de Max Nordau, estendeu o conceito para as artes.
“Está tudo ali: a loucura que espreita em silêncio, dos recônditos mais profundos, invisível aos olhos dos leigos, traindo-se apenas indiretamente, através de estigmas que exigem o olhar do especialista para se deixar interpretar; a loucura que inverte a “ordem natural”, aquela que fora vagarosamente construída através de milhares de gerações, a que determina que deve haver controle da mente sobre o corpo, da vontade sobre os impulsos, do consciente sobre o inconsciente. O degenerado torna-se escravo de seus órgãos, dos instintos bestiais, dos centros mais baixos da intelecção.
Sua consciência é inundada por imagens místicas, eróticas, por delírios e ilusões; ele se torna mera marionete a serviço de suas pulsões animais, e nada resta senão dar vazão a todas as vontades impostas por esse corpo subvertido. De alguns a força descomunal do impulso exige a incursão no crime, na dipsomania, na prostituição, no assassinato, na vagabundagem. Em outros, o desvio se manifesta na forma de uma inevitável tendência à dissensão: são os anarquistas, socialistas e extremistas políticos de todas as orientações, que recusam o mundo como ele é e vivem em função de uma utopia etérea e incorpórea, pobremente esboçada, mas ardentemente buscada.” (Daniel Rincon Caires)
Degenerados: uma categoria que abarcaria todos os incômodos, todos que contrariassem o já estabelecido. Uma semente do mal, usada pelos regimes totalitários para aquietar a população, sob o pretexto de higienização social.