(Trechos de O Jardim das Rosas, na tradução de Aurelio Buarque de Hollanda, 1952)

O Idiota
Certo vizir tinha um filho idiota. Mandou-o estudar com um sábio, a quem disse:
– Cuida desse menino. Talvez ele se torne inteligente.
Durante alguns meses o sábio ensinou à criança, sem nenhum resultado. Desiludido, escreveu ao pai: “Teu filho continua idiota, e eu tornei-me quase tão idiota quanto ele.”
A Reflexão
Eu conseguira deter um insensato que se ia precipitando num rio.
– Deixa-me, gritou o desesperado. – Eu quero morrer. Acabo de saber que minha amante me engana.
– Faz o que entenderes. Mas, por favor, antes de te afogares tira a roupa e dobra-a com todo o cuidado.
O homem obedeceu. Foi-lhe preciso certo tempo para dobrar a roupa. Quando acabou, disse-me: – Eu te agradeço. Agora, quero viver.
A Noite
No Iêmen, um dos meus filhos morreu. Não preciso dizer quanto sofri. A beleza de meu filho era maravilhosa. E o túmulo ia devorá-lo! No Jardim da Vida não há cipreste, por mais alto, que o vento não termine desenraizando, e não me espanta ver tantas rosas nesse jardim, se tantas crianças de faces róseas dormem sob a terra.
Tal era a minha angústia que levantei a pedra da sepultura de meu filhinho, para contemplá-lo ainda uma vez. Entrei no sepulcro. Que terrível espanto! Mudei de cor. Quando voltei a mim, cuidei ouvir a voz de meu filho: – Se tremeste de pavor nesta escuridão trágica, procede de maneira que a noite do túmulo em que repousarás seja tão luminosa como o dia. Para isto, acende, desde já, a lâmpada das boas ações.
Saadi de Shiraz nasceu em 1184 e morreu aos 107 anos.
Seus biógrafos dizem que ele “consagrou 30 anos ao estudo, 30 a percorrer o mundo, e durante outros 30 prosternou-se sobre o tapete da adoração para seguir as pegadas dos discípulos do ideal”.