“Neste mundo de misérias
Quem impera
É quem é mais folgazão
É quem sabe cortar jaca
Nos requebros
De suprema, perfeição, perfeição (…)”
(Corta-jaca, de Chiquinha Gonzaga)
O “maxixe” de Chiquinha Gonzaga intitulado “Gaúcho”, conhecido como “Corta-jaca”, foi executado por Nair de Teffé, ao violão, em fina “soirée” no Palácio do Governo, a que compareceram representantes do corpo diplomático e a elite carioca.
Era a primeira vez que esse tipo de música penetrava nos salões elegantes da elite, fazendo com que o fato seja considerado a alforria da música popular brasileira.
Nair de Teffé foi uma referência no início do século passado. Morreu em 1981, aos 95 anos.
Primeira caricaturista mulher do mundo, casou-se em 1913 com o marechal Hermes da Fonseca; ela com 27 anos e o marechal, viúvo, 58. Ele era o presidente da república – o primeiro gaúcho – desde 1910.

Para celebrar os quatros anos de mandato de Hermes da Fonseca na presidência, a então primeira-dama animou os ilustres convidados da comemoração com uma programação musical um tanto extravagante para a ocasião. O que causou problemas na festa que Nair promoveu no Palácio do Governo, em 26 de outubro de 1914, foi que ela, ao violão, acompanhada por Catulo da Paixão Cearense, tocou o maxixe Corta-Jaca, de Chiquinha Gonzaga.
Os acordes sincopados foram seguidos do ruído das palmas e do escárnio.
As palmas vieram das mãos dos presentes. O escárnio veio dos jornais, obstinados a criticar, e do conservador Rui Barbosa, que não poupou críticas à esposa do Presidente da República, reclamando da falta de decoro no Palácio presidencial.
“A mais baixa, a mais chula, a mais grosseira de todas as danças selvagens, a irmã gêmea do batuque, do cateretê e do samba. Mas nas recepções presidenciais o corta-jaca é executado com todas as honras da música de Wagner, e não se quer que a consciência deste país se revolte, que as nossas faces se enrubesçam e que a mocidade se ria!“
A irreverente Nair de Teffé reagiu com humor criando uma caricatura de Rui Barbosa que deve ter provocado ainda mais a ira do político.
Na época, os escândalos eram dessa natureza. Os conhecidos, pelo menos.
Sou fã da obra de Catulo
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Saudades de um tempo onde o ruborizar de faces nascia de músicas desconsideradas pela “elite” pensante.
Quisera agora assistir o rubor da face de um Rui Barbosa diante de tantos descaminhos.
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