(Günther Anders, 2007)
Flannery O’Connor disse certa vez: “toda história tem começo, meio e fim, mas não necessariamente nessa ordem.”

Costumamos nos perceber no meio de uma narrativa, com o fim à vista; o eterno “fim dos tempos”. O fim chegará, como um novo começo. Rupturas são inevitáveis, como mudanças de padrões. Perda de referenciais – e de sustentação.
O mundo segue em marcha para uma transformação – lenta, gradual e desapercebidamente – até atingirmos um ponto de inflexão, quando o quadro do regime termodinâmico do planeta se acelerará. E veremos no que dará. Uma nova ‘civilização’ se erguerá sobre as ruínas da que não chegou a ser? O Sistema Terra continuará nos acolhendo, apesar de nossas conscientes agressões às geosfera, hidrosfera, atmosfera e biosfera?
E se, ao invés de uma civilização novinha em folha, vier a barbárie prevista por Isabelle Stengers, que poderá ser tanto mais bárbara quanto mais o sistema tecno-econômico dominante (o capitalismo mundial integrado, como o conhecemos) continue seu ‘voo para a frente’ (‘fuite en avant‘)?
“… a humanidade está longe de perceber a urgência e a extensão dessa catástrofe, da qual a atual pandemia é uma pequena amostra”, vem alertando Déborah Danowski e Eduardo Viveiros de Castro. “Não tem mais mundo pra todo mundo”, completa.
O homem aceitará se “inserir” como hóspede ao invés de assumir-se como ‘senhorio’ do que não lhe ‘pertence’? Tratará bem os que lhe dão guarida e sustento? Pedirá perdão pelo ‘colapso ecológico’?
Mudaremos nosso conceito do que seja “exploração”, desassociando-o da noção de destruição? Abandonaremos nossa estratégia de ataque, como num jogo de xadrez – cujo objetivo é “derrubar” – ou a do ‘wei qi‘ (na China; ‘go’, no Japão), a estratégia de cerco do oponente?