Sou um crítico das religiões, ‘entendo’ as posições ateístas, mas sempre fico à caça da minha ‘espiritualidade’, o que quer que isso signifique. Não há contradição, na minha opinião. Dogmas – religiosos, políticos ou científicos – não fazem sentido para mim. Estamos num ‘continuum’; barreiras são para se ultrapassar.

Vou abordar o pensamento de Roger Scruton – um conservador que vale a pena ler – sobre a alma do mundo e a natureza humana, temas de seus últimos livros. Não se ofendam alguns conservadores, mas ele prezava a inteligência conforme defendia Aristóteles, como “uma insolência educada”. Ou seja, ele lia e ouvia todas as correntes de opinião, não só as de uma ‘agremiação’. Tinha um pensamento “poroso”.
Ele se dizia conservador porque tinha o “sentimento de que as coisas boas são facilmente destruídas, mas não são facilmente criadas”.
Para os ateus, a religião é uma explicação compreensível do mundo, que traz conforto e esperança; porém, como qualquer explicação, pode ser refutada por evidências. Ela também requer sacrifício e obediência (assim como algumas comunidades não religiosas – partidos políticos, forças armadas …).
A religião serviria, ainda, “como estratégia reprodutiva dos nossos genes”, diz David Sloan Wilson. Ou seja, ao pertencer a um grupo vinculado pela regra do sacrifício, obtêm-se benefícios reprodutivos: território, segurança, cooperação e defesa coletiva.
Desta forma, a religião teria um papel na “seleção de grupo”, do ponto de vista evolucionista.
E o pensar religioso? Pensemos que há um e apenas um único Deus, criador e mantenedor do mundo físico, que transcende o tempo e o espaço – portanto, não faz parte deste mesmo mundo. Não poderia, então, fazer parte do sistema de causas, já que “o contínuo espaço-tempo é a matriz na qual as causas ocorrem.” (Einstein)
Ou seja, Ele não pode ser descoberto pela física; não pode existir uma conexão causal entre Deus e o que pensamos sobre ele.
Scruton: “se Deus é um ser transcendental, que está fora do contínuo espaço-tempo, então se trata de uma verdade profunda o fato de Ele não ter nenhum papel causal a desempenhar nas crenças que o atingem. Se isso for suficiente para excluir Deus de nossas vidas, o que dizer sobre nossas crenças sobre números, equações e outros objetos matemáticos? Eles também estão fora do espaço e do tempo e, não têm nenhum papel causal no mundo físico.” Existe uma verdade matemática? Ela é transcendental?