“Morrer, que me importa? (…) O diabo é deixar de viver.” (Mário Quintana)
“Papai, quando você morrer, você vai sentir saudades?”
Silêncio.
“Não chore, que eu vou te abraçar …”
Essa história foi contada por Rubem Alves. Sua filha tinha três anos, mas sabia que a morte é onde mora a saudade.
A partir de certa idade, tornamos-nos foguetes, com contagem regressiva para a partida.
Rubem conta que “dona Clara era uma velhinha de 95 anos, lá em Minas. Vivia uma religiosidade mansa, sem culpas ou medos. Na cama, cega, a filha lhe lia a Bíblia. De repente, ela faz um gesto, interrompendo a leitura. O que ela tinha a dizer era infinitamente mais importante. ‘Minha filha, sei que minha hora está chegando … Mas, que pena! A vida é tão boa…” E partiu.
A morte não me assusta; só o morrer. O processo.
A morte de dona Clara parece apenas um desenlace, uma mudança de canal.
Mas, o morrer doloroso, asfixiado, agonizante … sem sequer estarmos conscientes ou fazendo valer nossa vontade é … uma triste lembrança deste mundo. Seria um novo parto?
Os médicos são preparados para estender a vida, mesmo quando ela de fato já acabou.