“… por que então ter de ser homem – que se esquiva do destino e anseia por ele? …
Vê, eu vivo. De quê? Nem a infância nem o futuro minguam … Inúmera, a existência transborda-me do coração.” (Rainer Maria Rilke)
Rilke foi uma influência em Gabriel Marcel. Este, por sua vez, influenciou Sartre, Merleau-Ponty, Paul Ricoeur e outros.
Para Marcel, morto em 1973, aos 84 anos, a questão do Ser não seria um “problema” a ser resolvido, mas um “mistério” a ser “vivido”. O Ser se abre como um campo de experiência mais íntima, concreta e real radicado no coração da existência.
Visionário, criticava o aspecto perverso que ronda a idealização da cultura técnica, frequente na sociedade de consumo, em que o “ter” sobrepõe-se ao “ser”. Isso, escrito em 1935! Já definia esse sintoma como o ‘pathos’ da época contemporânea. E, “à medida em que as relações humanas se despersonalizam (tudo passa a ser focado sob certo funcionalismo mecânico, frio e calculista), a relação com os outros se reduz a uma mera relação de posse.”
A esse comportamento designa como “espírito de abstração”: condição na qual o espírito, fascinado, termina por abandonar uma consciência mais crítica, racional. O homem torna-se ideológico, massificado, alimentado de fanatismo de toda espécie. Deixa de existir a pessoa, mas o indivíduo enquanto massa de manobra.
Recomendava: o homem deve fazer valer sua liberdade; uma liberdade engajada, solidária e, intersubjetivamente vivida.
Definia o homem como “homo viator”, homem viajante, com uma liberdade anunciada pelo horizonte da esperança.
Isso requereria transcender o dualismo entre mim e outrem. A dignidade humana só se justificaria a partir de sua base existencial. O Ser se desvelando como mistério vivo e inquietante.
Criticava o verbalismo pedagógico, que relaciona o valor do aluno ao rendimento que ele pode dar, supondo-se que a pessoa, por si só, não tem dignidade própria.